01 abril 2007
Starodawne Polskie Wesele - Os Casamentos polacos de antigamente...
As cerimônias nupciais possuem peculiaridades muito curiosas, merecedoras de uma apreciação mais íntima. Assim, a tradicional figura do "swat", também denominado "rajtca" (leia-se sfat, ráica), ainda hoje continua evidente, prestigiada, indispensável e insubstituível em suas funções de alcoviteiro. Compete-lhe, ao ensejo de uma "fortuita" visita, na qualidade de emissário, consultar os pais da jovem se eles não se oporiam a continuidade de um namoro mais evidente, e já de certa forma mais compromissado, com o pretendente que, na ocasião, representava. Obtida a anuência, marcava-se, de imediato, uma data posterior em que, em companhia do pretendente ou de seus pais, todos se reuniriam para tratar das aspirações matrimoniais de seus filhos. Nessa reunião denominada "zaloty" ou "poseliny" (leia-se zalóti, pocelíni), competia ao "swat" iniciar as conversações , e como normalmente fazia, perguntava aos anfitriões, se na casa "havia umas novilha para vender" ... Recebendo uma resposta afirmativa, era servida "wodka", e entre uma e outra dose, prosseguiam as conversações sobre os dotes que acompanhariam o enlace matrimonial de seus filhos.
Durante essas conversações preliminares, a jovem permanecia "escondida" em seu quarto, aguardando a ocasião em que seria "achada" pelo "swat" que, a seguir, lhe ofertava um cálice de "wodka". Se o aceitasse, isso traduzia a sua aquiescência em receber o pretendente como seu futuro.
O momento subsequente a esse compromisso mostra a todos os familiares , parentes mais próximos e amigos mais íntimos, numa nova e festiva reunião, denominada "zmowiny" ou "zapoiny" (leia-se zmovíni, zapoíni), durante a qual se oficializava o compromisso nupcial dos jovens enamorados. Quando, nessa reunião se realizava especificamente o noivado, denominado "zrekowiny" (leia-se zrecovíni), episódio não habitual entre a coletividade rural, então ocorria algo mais cerimonial e expressivo: os pretendentes, muito comovidos, se ajoelhavam diante de seus pais que os abençoavam fazendo sobre suas cabeças, o sinal da cruz, e a seguir, os beijavam afetuosamente. O alcoviteiro, também presente nessa ocasião, ativo e alegre, se ao ensejo fosse escolhido para "starosta" ou "marszalek" (leia-se starósta, marçáueq = mestre de cerimônias), de toda a festa nupcial, dava início às suas novas funções, conduzia os noivos para junto de uma mesa, colocava as mãos de ambos sobre uma broa de centeio e as amarrava com uma toalha branca ; a seguir, ele mesmo orientava a colocação das alianças, fazia uma alocução apropriada ao momento , geralmente uma singela oração cheia de invocações religiosas, implorando as bênçãos divinas para o noivado para o noivado que os circunstantes acabavam de assistir. A seguir os noivos trocavam presentes, eram servidas bebidas e alimentos, se cantava , se dançava em sua homenagem, etc. A toalha usada para atar as mãos dos noivos era carinhosamente guardada, para mais tarde, ser colocada no caixão funerário.
Ainda antes das cerimônias nupciais propriamente ditas, na véspera das mesmas, ocorriam dois episódios tradicionais. Os músicos da aldeia, em companhia do noivo, em companhia do noivo, realizavam uma serenata à noiva, muita vezes prolongada a todos os convidados para as festas nupciais. Enquanto isso ocorria, na casa da noiva, as suas damas de honra e amiguinhas trançavam as grinaldas, o bastão e as coroinhas nupciais, tarefa essa entremeada de diversos cânticos alusivos. Todo esse momento e cerimônias compunha a "dziewiczanoc" (leia-se dzievitza nótz = a noite da virgem).
O bastão nupcial, denominado "ruzga weselna"(leia-se ruzga vecélca), simbolizava o noivo. Com freqüência o bastão era ramificado, e a ele eram afixados, por meio de uma fita vermelha, sete ramos , ornados de maçãs e outros objetos decorativos. Durante a decoração do bastão nupcial ele era segurado pela dama de companhia mais idosa, e quando a tarefa estivesse concluída, as jovens dançavam e cantavam velhas canções.
Finalmente o grande dia do enlace matrimonial. Começava com a cerimônia denominada "rozpleciny" (leia-se rospletchíni), a qual, embora pouco usada, tem a seguinte evolução:
1. uma gamela ou o caixão em que usualmente era preparada a massa de farinha para a confecção da broa, era colocado no meio da "izba", como o fundo para cima;
2. sobre a gamela se distendia um "kilim" (leia-se quílim = tapete), ou se colocava uma "poduszka" (leia-se podúsca = travesseiro);
3. sobre esse tapete ou travesseiro, sentava a noiva;
4. as damas de companhia se amarravam as tranças de cabelo da noiva e as enchiam de grampos, isso para dificultar o seu desembaraçar;
5. sobrevinha um leilão em que se tentava comprar uma foice, e nesse ato, o irmão da noiva era quem dificultava o epílogo
6. terminado o leilão fictício, as tranças do cabelo da noiva eram desembaraçadas , tarefa que devia ser iniciada pelo seu irmão mais velho;
7. a seguir, cada um dos parentes da noiva aí presente, em sinal de concordância, passava ao menos discretamente, um pente em seus cabelos. A partir desse momento, a noiva era intitulada "panna mloda" (leia-se pána muóda = jovem senhorita), e o noivo "pan mlody" (leia-se pan muódi jovem senhor). Geralmente o casamento se realizava num domingo, após o terceiro pregão e após a comunhão dos noivos e de seus parentes mais próximos. Com freqüência eram organizadas duas caravanas de convidados , uma na casa do noivo, outra na casa da noiva. A caravana do noivo vinha montada em cavalos, profusamente ornamentados. Mas, com maior freqüência , o noivo com sua caravana se dirigia à casa da noiva , onde , ao chegar, encontrava os portões fechados, isso para "dificultar" a conquista, através de singelas dificuldades cerimoniais. Finalmente, transposto o portão e após as saudações normais, vinha o momento da despedida da noiva; a mão a abençoava, colocava sobre a grinalda ou atrás da gola de seu vestido um fragmento de pão, sal e mel, e uma pequenina moeda, tudo envolto cuidadosamente; se eventualmente a noiva fosse órfã, as bênçãos eram proferidas pelos pais adotivos, após a saudosa invocação de seus pais verdadeiros.
Quando a viatura nupcial, uma carroça profusamente ornamentada, se colocava diante da noiva, esta, em companhia de suas damas, cantava canções de despedida a seus pais, a seu lar, a todas as coisas que lhe eram mais caras e de cuja companhia durante tantos anos usufruíra. Esse momento, geralmente era muito compungedor – chorava a noiva, seus pais, seus familiares, e para que a tristeza não se prolongasse em demasia, a viatura que a conduzia, rompia desabaladamente e se dirigia à igreja da aldeia.
Ao lado da noiva viajava a sua dama de companhia mais idosa. O noivo, montado em seu cavalo, e seus garbosos cavaleiros, a acompanhavam. Como que conduzindo a caravana, e também montado segurando o bastão nupcial, se destacava a figura do animado "marszalek" .
Pouco antes da partida , a mãe da noiva, muito vigilante e fiela ao cumprimento de certas "simpatias" tradicionais, colocava um pedaço de pão na porção dianteira da viatura, isso " para quejamais faltasse aos jovens nubentes". Atrás do carro nupcial, me outra viatura, iam os músicos, e através dos seus instrumentos – o violino, a flauta e o contrabaixo, executavam velhas melodias, acompanhadas de cânticos, de vivas, de expressões de júbilo, acentuando ainda mais as alegrias daquele tão festivo momento de sua aldeia.
Entravam na igreja aos pares , e nesse momento os músicos executavam uma marcha. A noiva era conduzida ao altar pelo irmão mais idoso, e o noivo, por seus cavalheiros de honra.
O retorno ao lar era também muito ruidoso, alegre, animado, com vivas e cânticos. Mas, para aqueles que ficaram em casa, para que tivessem tempo suficiente para preparar o "banquete", toda a caravana se dirigia a uma taberna, onde os jovens nubentes eram recebidos pela taberneira que , ao ensejo, lhes oferecia uma tigelinha de "partoka" (leia-se patóca = mel ao natural).
A parada na taberna tornou-se um hábito inevitável, pois os noivos sofreriam as conseqüências de eventuais maldições... Aí na taberna. Começava a festa nupcial. Os jovens provocavam o mestre de cerimônias, lhes dirigiam canções irônicas, e nelas se queixavam da falta de recreação, que não os divertiam, etc. E então, o provocado, iniciava as danças e mandava servir as bebidas. O noivo não dançava, permanecia sentado ao lado da noiva; também não comia o seu pão, mas o dela e vice-versa.
Após esse preâmbulo, os convidados reiniciavam a sua alegre viagem, e cantando e a toda brida, corriam, através de outras estradas, isso para "embaraçar o caminho do mal". Ao chegarem à casa da noiva, aí encontravam os portões fechados. Somente seus pais iam ao seu encontro, a os saudá-los, bem como aos demais convidados mediante um cordial e efusivo aperto de mão, e aos noivos, ostentando o "cep", a broa, um jarro com água e a roca.
Começava o banquete nupcial, e aqui é que se destacava a presença do "marszalek" – a ele competia acomodar todos os hóspedes. Os noivos geralmente se assentavam em frente da porta de entrada da "izba", junto da parede e sob os quadros que a ornamentavam. Antigamente, os noivos tomavam assento junto de uma mesa a parte, em companhia de seus cavalheiros e do violinista; noutras eventualidades, eram acomodados junto de uma mesa situada noutra dependência, não se alimentavam, mas , pelo contrário, se submetiam a um jejum voluntário. Todavia, tais hábitos já foram esquecidos, e mais recentemente , competia aos noivos se assentarem na mesa principal, no lugar de maior destaque, e diante deles, sobre a mesa, era colocado o bastão nupcial, emoldurado por abundantes frutos, flores vivas, guloseimas e jarros de cerveja.
O banquete possuía características nitidamente cerimoniais, mais ou menos fixas e consagradas pela tradição. Geralmente existia um número determinado de pratos , por exemplo sete ou nove. Dentre esses, os mais freqüentes e de maior importância eram os seguintes:
1. "pierogi" (leia-se pierógui = pastéis) feitos de farinha de trigo, queijo ou requeijão, acrescidos de manteiga ou de pedacinhos de toicinho;
2. o "korowaj" (leia-se coróvai = um pão grande) de forma redonda, de farinha de trigo, enfeitado de tranças, marrequinhos ou outras aves feitas da mesma massa;
3. "chled razowy" (leia-se hlép razówi = broa integral). Além de outros pratos, aos jovens nubentes era servido um caldo especial, sem sal, cozido somente no leite, denominado "luba" (leia-se lúba).
Quando afinal era servido um prato a base de bucho temperado com diversas iguarias , isto significava que a festa nupcial estava em seu último dia. Outrora, a festa durava até uma semana, e durante os sete dias eram servidos ate sete lautos : na casa da noiva, do noivo, do mestre de cerimônias, do "starosta", na casa do fazendeiro, e finalmente na taberna. Tudo isso, expressão de uma excepcional hospitalidade, já foi esquecido.
Durante o banquete nupcial eram cantadas diversas canções alusivas, especialmente no momento em que era apresentado e servido o "korowaj". Este era colocado, a meia noite, no centro da mesa, e concomitantemente se realizava a cerimônia denominada "odczepiny" (leia-se otzepíni). Tudo era combinado entre os pais da noiva e o mestre de cerimônias. Geralmente este, em concordância com o programa preestabelecido, orientava aos cavalheiros de honra para iniciarem as canções que incitavam, que reclamavam a realização do "odczepiny", e nessa ocasião, a jovem nubente simulava uma fuga e se "escondia" em seu quarto, as suas damas de companhia a "protegiam" , não queriam entregá-la... Quando afinal a jovem era reconduzida, então ela se assentava em uma cadeira ou num banquinho situado no meio do "izba" e eram acesas diversas velas; da sua cabeça era retirada a grinalda ou coroinha nupcial e entregue ao noivo; e a seguir as tranças de seus cabelos eram cortadas; a "staróscina"
(leia-se starostchína = a mestre de cerimônias) após realizar um sinal da cruz sobre a cabeça da noiva, se esforçava em lçhe colocar sobre a cabeça um "czepiec" (leia-se tzépiets = um gorro), doado por sua madrinha. A jovem, como que inconformada, tirava o gorro três vezes consecutivas, e quando finalmente, o deixava ficar, os cavalheiros de honra proclamavam "juz nasza" (leia-se iúz nássa = já é nossa). E então, em torno da jovem noiva, dançavam os casais mais velhos, enquanto os mais jovens, a começar dos cavalheiros de honra , cantavam canções alusivas ao "chmiel" (leia-se hmiel = lúpulo).
Após a cerimônia denominada "wianowanie" (leia-se vianovánhe), isto é, a entrega dos presentes, os quais, em seu conjunto, deviam significar a associação de todo o clã, em beneficio do bem estar, da felicidade dos nubentes. A seguir, a jovem noiva iniciava a dança solene denominada "obdijany" (leia-se odbiáni), ocasião em que, um a um, todos dançavam com ela, ao menos uma volta em torno da "izba" e por essa honrosa deferência, os jovens davam um moeda aos músicos. Através dessa dança, a jovem se despedia dê sua vida de solteira, de suas amizades, e os casados a saudavam ao ensejo de seu ingresso no estado matrimonial. Finalmente, após ter dançado com todos os convidados, ela dançava com seu noivo sob as expectativas gerais. Para essa eventualidade as danças eram variáveis, e dentre elas, a mais freqüente, era denominada "przepiórka" ( leia-se pcepiúrca = a codornís).
Terminada a dança dos recém-casados, as damas de companhia carregando velas acesas e aos pares, conduziam a noiva a seus aposentos, e aí entoavam um diálogo cantado, entre elas, a noiva, o noivo com os cavalheiros postados fora, em aposento contínuo. Concluído o cântico, as damas de companhia abriam a porta,, os cavalheiros cantavam uma marcha nupcial e o noivo penetrava no aposento de sua jovem esposa. No dia imediato a caravana de cavalheiros saudava aos recém-casados cantando uma alegre canção para o bom dia, visitava a residência de parentes e amigos e assim toda a aldeia participava das festividades.
Mas, não terminaram ainda as cerimônias nupciais. Outro momento, bastante curioso, com peculiaridades próprias se relacionava com a mudança da jovem esposa para a sua residência definitiva, momento esse denominado "przenosiny" (leia-se psenochíni = a mudança), o qual ocorria em dia, às vezes no dia imediato ao enlace matrimonial , ou então mais tardiamente, no segundo ou terceiro dia. Nessa ocasião, a jovem simulava uma fuga, e através de cânticos ou a simples conversação manifestava o seu descontentamento, pois "não queria sair da casa paterna". Mas, como isso era impossível, ela entoava singelas canções de despedida, tristes e lamuriosas, e cantando ela chegava à sua definitiva habitação. Aí ela era recebida pelos sogros que, ofertando-lhe o tradicional bocado de pão e a pitada de sal, lhe expressavam a suas boas vindas e a sua hospitalidade. Em sua nova morada, desde a soleira da porta de entrada , até a mesa situada no centro da "izba", era distendido um tapete. Quando por aí passava a jovem esposa, ela primeiramente dirigia o seu olhar para o fogão e para a chaminé, isso "para acabar com as saudades de sua casa". Ás vezes, após essa recepção, competia-lhe distribuir pequeninos pães de forma arredondada, denominados "kukielki" (leia-se cuqiéuqui), e com isso expressava que com ela veio a abundância. Para finalizar, e augurando toda a felicidade para o jovem par, todos os convidados aí presentes, para povoar a nova habitação com muita alegria, alegria que aí jamais deveria faltar, cantavam e dançavam com redobrado vigor e entusiasmo.
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