22 maio 2008

A “FACILITADA” DA MARUCHA



A Marucha era um baita de uma polacona, que apesar de seus quinze anos e poucos, tinha um corpão de mulher feita. Muito alta, pesada, mas um peso bem distribuído, cabelos loiros como uma espiga de milho e um par de olhos azuis... mas azuis belíssimos. Dentes grandes, fortes e branquinhos. Lábios enormes. Carnudos... e muitas sardas no rosto oval. Marucha era tímida. Quase não falava. Pouco sorria, mas quando mostrava os dentes brancos, encantava a todos. Desde criança trabalhava na roça, ajudando os pais. Última, de sete irmãos machos, viviam nas proximidades da Colônia Gonçalves Junior, e a Polacona só conhecia a Colônia, Irati e Rebouças. Naquele tempo, sem recurso algum, a vida era esta: trabalho, trabalho, crescer, casar, procriar... e deixar o tempo passar. A dona Geno, mãe da Marusca, era uma fera. Era a capitã da casa. O marido, um polacão, pouco mandava na casa e na família. Muito trabalhador, vivia na pequena propriedade e os negócios da família quem cuidava era a Geno. Mulher decidida. Comprava, vendia, vinha para o comércio e cuidava do dinheiro da família. E assim viviam os colonizadores poloneses. Muito trabalho e pouco divertimento.

Vai daí que um belo dia, a Marucha adoeceu. Começou a ficar preguiçosa, engordou muito, enjoava com freqüência... e a velha Geno não teve dúvida: Mandou encilhar a carrocinha com os melhores cavalos e com o filho mais velho na boleia, de madrugadinha, se abalaram para Rebouças. Farnel feito no capricho e uma cama improvisada para acomodar a doente. A Marusquinha foi vomitando a viagem inteira. Lá pelo meio dia, chegaram ao curador famoso de Rebouças: o Gaúcho. Muita gente para consultar. A Geno já foi entrando, e como morava longe e precisava voltar antes da noite, conseguiu ser atendida antecipadamente. O "Gaúcho" examinou" a menina, perguntou a idade e fez o benzimento. Derramou a cera, e veio o diagnóstico: bichas revoltadas. Das braba. E lascou a receita: Chá de hortelã com um dente de alho e três doses do especifico 99 com chá de Sene à noite. A velha matriarca voltou para a Colônia aliviada. No outro dia, nova viagem: Irati. Direto na Farmácia do Seo Pessoa, para confirmar o diagnóstico do curador e comprar o especifico. Na farmácia, o velho farmacêutico botou os olhos na Marucha, e no barrigão escondido e com a "receita" do Gaúcho nas mãos, perguntou para a mãe mandona:

- Qual é a idade da moça?
- A menina tem quinze anos seu dotô.
- E as regras, tão vindo certinhas?
- Que nada Seo Pessoa. A Marucha é "desregulada". Vem um meis, faia três quatro...
- Hummm? E você mocinha... será que não andou "facilitando" com o namorado????
- O quê Seo Pessoa?? A Marucha nem tem namorado. Não sai de casa e nos baile da Colônia eu vo levá. A menina é moça e não "facilito nada não"...
- Hummmm. Então vamos fazer o seguinte. Leve o especifico e volte daqui a sessenta dias, pra ver se melhorou. Ah! Dê o chá, mas faça a moça obrar, só em um urinol. No penico mesmo. Não deixe ela ir na casinha, pra fora, de jeito nenhum, tá bom?
A Geno, sem saber o porquê da orientação do velho farmacêutico, saiu contrariada. Onde já se viu perguntar uma "maroteza" destas pra uma moça donzela. "Facilitando" onde já se viu??? A Marucha é uma menina pura... Ô véio assanhado...
Passado uns setenta dias, a D. Geno entra na Famácia Pessoa, meio cabisbaixa.
- Seo Pessoa. Quero proseá co senhor lá dentro.

Adentraram até a sala reservada e a velha senhora desandou a falar desesperadamente:
- O senhor sabe Seo Pessoa que a disgramada da Marucha me feiz desfeita e deu um susto ne nóis. Não a de vê que dei os remedinho, e uma noite, a menina acorda aos grito, com dor de barriga. Corri na cozinha, preparei o chá de hortelã e dei junto co especifico. Sorte que botei ela no pinico, como o senhor mandô. A menina gemeu... gemeu.... e gritava. E nada de obrá. Depois de uns tempo, e muito choro, a desgramada, cagá, não cagô, mas derrubô um baita de um nenê. Sim senhor. Um polaquinho de zóio verde. Não é que o senho tinha razão. A Marucha "facilito" prum namoradinho. E o desgramado do alemão féis mar pra minha Maruschinha. Emprenhou a coitadinha. Mais nóis já tomemo as providência. Fumo lá nos Alemão e disse: Ou casa ou vai pro estanho. Vão casá. No dia quinze, o padre dos polaco, vai tá na Colônia e já fais o casório e o batizado do Estacho. Vamo ponhá o nome do avô: Estanislau. E vim cunvidá o senhor pra padrinho do casório e do batismo do Estacho.
- Como assim: padrinho da noiva e do nenê das bichas?
- Sim senhô. O senhor foi que desconfiô das "maroteza" da Marucha e proibiu ela de i na casinha lá fora. Se tivesse ido prá fora, o pobre do Estacho pudia tá no meio do bostedo. Vai sê padrinho sim senhô. O senhor sarvô o Estacho, pobrezinho...
- Agradeço. E vou sim. Mas vamos dividir a responsabilidade. Vou ser padrinho do casório, mas quem tem que batizar o pequeno Estacho, deve ser o Gaúcho de Rebouças... aí ele vai ver o tamanho das bichas da Marucha...
A velha Geno "endiabou" com o Seo Pessoa:
- O Seo Pessoa tá mangando da minha desgracera? Já não chega a Marucha ter feito maroteza e "facilitado" pro alemão desgraçado e ainda tenho que guentá o senho se rindo? Sabe o que?: teje descunvidado pro casório e pro batizado...
E saiu da Farmácia Pessoa, pisando miúdo. O velho farmacêutico ficou sorrindo um pouco constrangido pela pureza daquela gente humilde.
A Marucha foi feliz com seu alemão. Dias destes, esteve na minha farmácia e conversamos. Vai ser bisavó. Nova ainda: tem menos de setenta anos...
- Seo Rodrigo: Não sabe que a danadinha da minha neta, a Cacirda - filha do Estacho, que tem só quinze anos, tá grávida. Pois é. Andou "facilitando" com um "cabocrinho" ali do Pirapó e emprenhou. Tá de seis meis. Barriguda...!!!!
A festa vai ser lá na Colônia. E feliz da vida por ser "bisa", me convidou para o casamento... E nós por aqui... só vamos contando estórias. Até a próxima.

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